segunda-feira, 20 de julho de 2009

Poema para a Tecelã


“Ai, tecelã sem memória,
de onde veio esse algodão?
Lembras o avô semeador,
com as sementes na mão,
e os cultivadores pais?
Perdidos na plantação
Ficaram teus ancestrais.
Plantaram muito. O algodão
nasceu também na cabeça,
cresceu no peito e na cara.
Dispersiva tecelã,
esse algodão quem colheu?
Tuas pequenas irmãs.
Deixando a infância colhida
e o suor infantil e o tempo
na roda da bolandeira
para fazer-te fiandeira.
Ai, tecelã perdulária,
esse algodão quem colheu?
Muito embora nada tenhas,
estás tecendo o que é teu.
Teces tecendo a ti mesma
na imensa tearia...”


Mauro Mota, 1957
[1] Mauro Mota = Mauro Ramos da Mota Albuquerque, consagrado poeta brasileiro, 1912 (Recife) - 1984 (Recife).

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