
Algodão de fibra colorida no Brasil
O algodão colorido já era cultivado pelos povos antigos, como mostram escavações realizadas no Peru e que datam de 2500 a.C. Amostras de algodão de fibra branca, coletadas no Paquistão são datadas de 2700 a.C, evidenciando portanto que este dois tipos de algodão, o colorido e o branco, têm a mesma idade.Os algodões de fibra branca mereceram mais atenção em programas de melhoramento genético, desde a metade do século 20, do que os de fibra colorida. Isso fez com que se acentuasse a diferença entre estes dois tipos de algodão no que se refere aos caracteres de importância econômica. A cor da fibra portanto não é inusitada como poderia parecer, já que o algodão mais conhecido, plantado e utilizado é o de fibra branca. Muitos algodões silvestres diplóides, apesar de não possuir fibra fiável, possuem coloração em seus rudimentos de fibra, nas cores marrom, em várias tonalidades e esverdeadas. Alguns paises possuem plantio comercial de algodão colorido como Estados Unidos, Peru e China.
Quando ainda não eram explorados em plantios comerciais, no Brasil, alguns algodões com fibra marrom já eram usados como planta ornamentalnos Estados da Bahia e Minas Gerais sendo que a fibra era usada para confecção de rtesanatos, em localidades do interior destes Estados. A cor marrom destes algodões pode ter se originado de algodões nativos de G.barbadense L presentes nestas regiões os quais podem apresentar fibra marrom e também da espécie silvestre G.mustelinum originária do Brasil, e presente nos Estados da Bahia e Rio Grande do Norte cuja fibra é também marrom.
Na década de 80, pesquisadores da Embrapa realizaram viagens pelos vários Estados do Nordeste a fim de coletar sementes de plantas de algodão, remanescentes de antigos plantios ou que estavam em locais próximos a algodoeiras, nas margens de estradas, matas, e outros locais. Estas sementes complementariam o banco ativo de germoplasma já existente e foram armazenadas em câmara fria, servindo como fonte de genes para futuros trabalhos de melhoramento. Foi observado que muitas destas plantas possuíam a fibra na cor marrom claro. A primeira variedade de algodão de fibra colorida originou-se de seleção nestes materiais coletados no Nordeste e se chama BRS 200 cuja fibra é marrom claro. Para a síntese desta cultivar aproveitou-se portanto a própria variabilidade existente para cor da fibra presente em materiais coletados no Nordeste.
O linter e a fibra dos algodões tetraplóides ocorrem em cores que vão do branco a várias tonalidades de verde e marrom. Normalmente apenas um gene governa a presença destas cores no algodoeiro. Apesar de controlada geneticamente a cor da fibra pode ser influenciada por fatores ambientais como o tipo de solo, o conteúdo de minerais e a luz solar.Todos estes fatores podem fazer com que determinada cor da fibra seja mais ou menos acentuada. Dependendo do ano, também, uma determinada cultivar pode ter a cor da fibra mais ou menos acentuada.
Com o interesse demonstrado por empresários Japoneses pela fibra colorida é que se iniciaram os trabalhos de melhoramento na Embrapa no início da década de 90 e foi selecionada a primeira cultivar, a BRS 200, de cor marrom claro, como mencionado anteriormente. A procura por roupas confeccionadas com este tipo de algodão se dá por pessoas alérgicas a corantes e para uso por recém nascidos. Hoje não apenas este tipo de pessoas consomem este produto mas também aquelas interessadas em produtos ecológicos de maneira geral, como acontece nos dias atuais, sendo este também o caso do algodão naturalmente colorido e tem sido grande esta procura. O algodão colorido é ecológico pois dispensa as fases de preparo para tingimento e tingimento na indústria as quais utilizam produtos químicos, que se mal utilizados podem causar danos à saúde. Por dispensar estas fases, os custos na indústria com a obtenção do tecido são reduzidos, reduzindo os gastos com água e com energia, além de reduzir a quantidade de efluentes a serem tratados. Os corantes usados no tingimento de tecidos são nocivos à saúde e muitas vezes carcinogênicos. O processo de tingimento é altamente poluente pois gera resíduos com altas concentrações de sais, barrilha, entre outras substâncias e o alvejamento gera resíduos com umectantes, sais, soda cáustica, peróxido e neutralizadores. Apesar dos tratamentos de efluentes, cerca de 15dos resíduos são liberados e podem poluir o ecossistema no qual forem liberados.
Utilizando materiais introduzidos de outros paises, presentes em seu banco ativo de germoplasma, que apresentavam coloração na fibra, a Embrapa Algodão iniciou em 1995 um programa de melhoramento genético para obtenção de novas cultivares com novas cores da fibra, além da de cor marrom claro já existente, BRS 200. Os materiais presentes no banco, que exibiam alguma coloração na fibra não eram adaptados ao cultivo no Brasil e apresentavam fibra de qualidade inferior. Por isso necessitava-se de um programa de melhoramento para obtenção de materiais adaptados ao cultivo no Brasil e de boas qualidades de fibra. Após cruzamentos destes materiais com cultivares de fibra branca de boa qualidade, adaptadas às nossas condições e aplicação de métodos convencionais de melhoramento foram selecionadas as cultivares BRS VERDE, lançada em 2003 e as BRS RUBI e BRS SAFIRA, em 2005, de fibra marrom avermelhada. Estas cultivares são anuais e se prestam ao plantio em localidades da Região Nordeste que possuem precipitação pluvial igual ou maior quer 600 mm anuais. Já a BRS 200 de fibra marrom claro é semiperene e é indicada para as regiões mais secas da região Nordeste. Seu ciclo é de três anos ou seja ela produz até o terceiro ano.
As cultivares herbáceas BRS RUBI, BRS SAFIRA e BRS VERDE podem ser cultivadas em outras regiões do Brasil desde que se tomem precauções quanto às doenças, evitando áreas com ocorrência freqüente destas moléstias. Isto se deve ao fato de que na seleção destas cultivares não foram priorizadas a seleção para resistência a estas doenças já que as cultivares seriam indicadas preferencialmente para a região Nordeste onde a incidência de doenças é baixa e estas cultivares podem ser sensíveis.
O plantio comercial do algodão colorido iniciou-se em 2000 com 10 há da cultivar BRS 200 no Estado da Paraíba como indicado na tabela 1 onde se nota o incremento de área nos anos posteriores. Na safra 2004/2005 foram plantados 2 000 há, já incluídas a área com a RS VERDE. Na safra 2005 esperava-se um aumento de área, contudo a irregularidade e a falta de chuvas no início do plantio na região Nordeste não permitiu este aumento. Em 2005 a área plantada deverá ser semelhante à de 2004, com mais alguma área de BUBI E SAFIRA, que deverão ter neste ano de 2005 suas primeiras áreas comerciais, sob irrigação. Toda esta produção de algodão colorido foi consumida no próprio Estado da Paraíba. Existem várias pequenas indústrias neste Estado que compram o fio colorido ou a fibra, neste caso terceirizando a fiação e confeccionam várias peças de artesanato como tapetes, redes, jogos americanos, mantas, entre outros, como pode ser verificado pelas fotos, para venda no próprio Estado e Estados vizinhos. Há ainda um consórcio formado por um grupo de empresas que fabricam roupas para vendas no Brasil e no exterior. Outras Empresas estão iniciando seus negócios com o algodão colorido, fabricando roupas de banho e roupas comuns, neste último caso, para venda em grandes centros como São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, como pode ser verificado nas fotos.
As cultivares BRS RUBI e BRS SAFIRA são herbáceas e seu manejo cultural deve ser o mesmo dispensado a uma cultivar de algodão herbáceo de fibra branca. Na região Nordeste, como é comum, elas podem ser consorciadas com as culturas alimentares normalmente utilizadas. Com relação às pragas, estas são as mesmas que ocorrem no algodão de fibra branca e deve ser seguido o manejo integrado para maior eficiência no controle das mesmas. Apesar de na literatura haver referência a uma maior resistência do algodão colorido às pragas, em relação ao de fibra branca, na prática o que se tem observado é que eles são igualmente atacados e que se deve ter o mesmo cuidado dispensado ao algodão de fibra branca no combate às pragas do colorido. As cultivares BRS VERDE, RUBI e SAFIRA tem potencial produtivo de até 3000 kg/ha em regime de sequeiro na região Nordeste, caso o ano seja regular quanto às precipitações pluviais e podem ser cultivadas em regime irrigado com maior potencial de produção. A BRS 200 deve seguir o manejo cultural do algodão arbóreo, podendo também ser consorciada, mas como tem o porte menor que o arbóreo pode ser conduzida também em regime irrigado.
O algodão colorido tem um público consumidor diferenciado por isso seus produtos possuem um preço um pouco maior e o consumidor paga. Assim o produtor também poderá receber um preço maior pelo algodão que produz e vai se interessar pelo plantio do algodão colorido. Fica evidente que não poderá haver uma super produção de fibra colorida a cada ano. Por isso a Embrapa Algodão juntamente com outros órgãos na Paraíba está tentando organizar a produção a cada ano e caminhar para a emissão de um certificado de origem da fibra do algodão que atesta a qualidade e originalidade da cor natural e assim poder atrair outros investidores para o algodão colorido e fazer com que o preço diferenciado se justifique.
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